Como o Sistema Cardiovascular pode ser afetado pelas Mudanças Climáticas
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Como o Sistema Cardiovascular pode ser afetado pelas Mudanças Climáticas

Autor: Comunicação Unimed Prudente
15 min de leitura

O corpo humano ativa mecanismos compensatórios para se proteger quando é exposto a extremos climáticos, como calor ou frio. Assim, algumas alterações podem ser apresentadas:

Taquicardia

No calor, a frequência do coração aumenta e os vasos sanguíneos se dilatam para ajudar a levar mais sangue à pele, facilitando a perda de calor através do suor. Porém, quando esse processo acontece de forma muito intensa, pode causar um colapso pelo calor, provocando sintomas como batimentos cardíacos acelerados (taquicardia).

Em casos de inundações, secas ou outros fenômenos extremos, o sistema nervoso também faz o coração bater mais rápido por causa do estresse mental e da ansiedade provocados por esses fenômenos climáticos. Além disso, o esforço físico que muitas vezes é necessário para se proteger dessas situações — como mover objetos pesados, correr ou limpar os destroços deixados por enchentes, tempestades ou deslizamentos — também contribui para sobrecarregar o organismo.

O frio também provoca estresse no corpo humano. Diferente do que acontece com a exposição ao calor, o organismo precisa conservar a temperatura corporal, e para isso o sistema nervoso simpático acelera os batimentos cardíacos e reduz a circulação de sangue na pele, evitando a perda de calor. No entanto, se a exposição ao frio for muito intensa ou durar muito tempo, a frequência cardíaca pode acabar diminuindo bastante, especialmente em casos de hipotermia.

Hipertensão

Inundações, secas e fenômenos extremos provocam estresse agudo e o sistema nervoso simpático é ativado, elevando a pressão arterial. Quando esse estresse se torna crônico, pode afetar o sono e aumentar ainda mais o risco de hipertensão. Além disso, os esforços físicos exigidos para se proteger — como mover objetos pesados, correr ou limpar os destroços deixados por enchentes, tempestades ou secas — também elevam a frequência cardíaca, sobrecarregando o sistema cardiovascular.

Já as baixas temperaturas ativam não apenas o sistema nervoso simpático, mas também o chamado eixo renina-angiotensina, ambos responsáveis por aumentar a pressão arterial. Essa é uma tentativa do organismo de conservar calor, mas pode representar um risco para pessoas vulneráveis, como idosos e quem já tem doenças cardíacas.

No caso oposto (calor), a resposta inicial do corpo é uma elevação temporária da pressão arterial, causada pela ativação do sistema nervoso simpático e do sistema renina-angiotensina, que tenta reduzir a perda de líquidos através da urina. O aumento dos batimentos cardíacos (taquicardia), típico nesse processo, também pode elevar ainda mais a pressão arterial, especialmente em pessoas não tratadas ou com maior vulnerabilidade cardiovascular.

Hipotensão

A exposição prolongada ao calor provoca transpiração excessiva e dilatação dos vasos sanguíneos na pele (vasodilatação periférica), mecanismos que ajudam a dissipar o calor corporal. No entanto, esses processos podem levar à perda significativa de líquidos, causando hipovolemia — ou seja, uma redução no volume de sangue circulante — o que diminui a pressão arterial.

Além disso, a vasodilatação favorece o acúmulo de líquidos fora dos vasos sanguíneos, resultando em inchaço (edema), especialmente nos membros inferiores. Esse extravasamento reduz o fluxo sanguíneo para os rins, o que piora a retenção de sais e líquidos pelo organismo, agravando ainda mais a queda da pressão arterial (hipotensão). A hipotensão é um sinal típico de colapso pelo calor e também da insolação.

Síncope (desmaio)

O desmaio é a etapa seguinte à exaustão pelo calor. Se a hipotensão causada pelo calor não for controlada, pode ocorrer uma queda importante na perfusão cerebral, levando à perda transitória da consciência — a chamada síncope (desmaio).

Na exaustão pelo calor, especialmente após esforço físico, esse desmaio pode acontecer devido a uma combinação de fatores: vasodilatação periférica intensa, perda de volume de líquidos, redução do tônus dos vasos sanguíneos e diminuição do retorno do sangue ao coração. Esses mecanismos comprometem a circulação sanguínea adequada para o cérebro, resultando em síncope ou, em casos mais leves, em pré-síncope, caracterizada por tontura e sensação iminente de desmaio.

Arritmia Cardíaca

A desidratação grave provocada pela exposição prolongada ao calor pode causar um aumento de potássio no sangue (hiperpotassemia), o que eleva o risco de arritmias ventriculares — alterações perigosas no ritmo cardíaco. Por outro lado, também pode haver uma perda significativa de potássio devido à sudorese intensa ou ao consumo exagerado de líquidos com baixa concentração de sais (líquidos hipotônicos) durante uma onda de calor. Nesses casos, ocorre a hipopotassemia (baixa de potássio), que igualmente pode provocar arritmias, principalmente nos estágios iniciais do colapso pelo calor.

Durante ondas de calor ou queimadas intensificadas pela secas, há um aumento na concentração de partículas poluentes e ozônio no ar. A inalação desses contaminantes pode interagir com receptores nos pulmões, provocando alterações no sistema nervoso autônomo — responsável por regular funções vitais como a frequência cardíaca. Esse processo pode desencadear mudanças nos batimentos do coração, elevando o risco de problemas cardiovasculares, especialmente em pessoas mais vulneráveis.

Insuficiência cardíaca

Quando a frequência cardíaca aumenta, como ocorre em situações de calor extremo, há uma sobrecarga para o coração, o que pode desencadear insuficiência cardíaca, especialmente em idosos ou pessoas com doenças cardíacas crônicas. Além disso, a elevação excessiva da temperatura corporal pode danificar as paredes internas dos vasos sanguíneos (endotélio vascular), favorecendo processos de coagulação e fibrinólise. Isso pode levar à obstrução de pequenos vasos sanguíneos (arteríolas e capilares), resultando no colapso de órgãos vitais, inclusive o coração.

Outro efeito importante é que, durante uma onda de calor, a circulação sanguínea na pele aumenta, enquanto a irrigação sanguínea do intestino diminui. Esse desequilíbrio enfraquece a barreira intestinal, permitindo que bactérias e toxinas atravessem o intestino e entrem na corrente sanguínea, desencadeando a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS). Essa síndrome pode evoluir para múltiplas complicações, incluindo a insuficiência cardíaca.

Além disso, a hiponatremia — que ocorre, por exemplo, quando se consome muita água com baixa concentração de sais (líquidos hipotônicos) durante o calor — pode aumentar significativamente o risco de morte em pessoas com insuficiência cardíaca. Porém, esse é um evento relativamente raro.

O estresse crônico vivenciado por pessoas expostas a inundações, secas e fenômenos meteorológicos extremos pode desencadear a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS), aumentando o risco de desenvolver insuficiência cardíaca.

Sobre poluição do ar e secas, a inalação de partículas finas presentes no ar durante queimadas ou períodos de estiagem pode provocar uma resposta inflamatória tanto nos vasos sanguíneos quanto nos pulmões. Esse processo inflamatório pode desencadear a SIRS e, consequentemente, levar à insuficiência cardíaca, especialmente em pessoas mais vulneráveis.

Angina pectoris e infarto do miocárdio

O calor e o frio aumentam a frequência cardíaca e favorecem a hemoconcentração — um aumento na concentração de células e substâncias no sangue devido à perda de líquidos. Esses processos contribuem para o surgimento e agravamento de placas de gordura nas artérias (placas arterioscleróticas), elevando assim o risco de arteriosclerose coronária, uma das principais causas de infarto e outras doenças cardíacas.

Comuns em períodos de poluição intensa ou queimadas durante secas, a Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS) pode ser o mecanismo fisiológico que explica a relação entre a inalação de partículas finas e o aumento do risco de infarto do miocárdio. A inflamação desencadeada por essas partículas prejudica o sistema cardiovascular, favorecendo eventos cardíacos graves.

Insolação

Pessoas com insolação podem apresentar diversos sinais e sintomas cardiovasculares, como palidez, aceleração dos batimentos cardíacos (taquicardia), pulso fraco e queda da pressão arterial ao se levantar (hipotensão ortostática). A principal causa desse quadro é a desidratação grave provocada pelo calor e pela reposição inadequada de líquidos. A insolação costuma se manifestar com temperaturas corporais entre 38,3°C e 40°C, mas sem sinais de comprometimento neurológico nesse estágio inicial.

Se não houver tratamento adequado e imediato, a insolação pode evoluir para um colapso pelo calor, uma condição mais grave, com risco elevado para a saúde e até para a vida.

Fonte: Mudanças climáticas para profissionais de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador

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