Como o Sistema Respiratório pode ser afetado pelas Mudanças Climáticas
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Como o Sistema Respiratório pode ser afetado pelas Mudanças Climáticas

Autor: Comunicação Unimed Prudente
14 min de leitura

As mudanças climáticas provocam um aumento na ocorrência de inundações, tempestades, secas e elevação das temperaturas. Como consequência, há maior exposição a contaminantes, fungos e microrganismos, o que tem contribuído para o crescimento dos problemas respiratórios na população.

Embora os mecanismos biológicos exatos que causam essas alterações respiratórias ainda não sejam totalmente compreendidos, diversas hipóteses vêm sendo sugeridas e estudadas para explicar essa relação entre riscos climáticos e saúde pulmonar.

Sintomas gerais das vias aéreas superiores

A presença de mofo e bolor após inundações pode causar irritação e inflamação nas vias aéreas superiores, resultando em sintomas como congestão nasal, irritação na garganta e tosse. Mesmo na ausência de enchentes, a umidade excessiva em algumas regiões favorece a proliferação de mofo, aumentando o risco desses mesmos sintomas respiratórios, especialmente em pessoas com alergias ou doenças respiratórias pré-existentes, como asma.

Alergias

As altas temperaturas estimulam a produção e a liberação de alérgenos no ar, aumentando os casos de rinite alérgica. Partículas suspensas e intrusões de poeira em regiões muito secas podem aumentar o risco de rinite alérgica e irritação nos olhos. Além disso, os ventos fortes associados ao calor e às tempestades causam a disseminação de alérgenos e tornam sua inalação mais provável. Igualmente, a baixa umidade do ar na estação seca associada a temperaturas mais altas aumenta a presença de micropartículas, pólen, bactérias e elementos micelares (mofo e fungos) no ar. Níveis elevados de dióxido de carbono (CO2) podem desencadear a liberação de alérgenos, pois promovem o crescimento das plantas e a produção de pólen.

Os mofos e os bolores causados por inundações ou umidade também podem causar graves sintomas respiratórios (por exemplo, tosse ou dispneia) em pessoas alérgicas e não alérgicas como reação às toxinas que produzem.

Dispneia

O calor excessivo pode provocar hiperventilação, especialmente em grupos mais vulneráveis, como crianças e idosos com doenças respiratórias crônicas, por exemplo, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).

A respiração acelerada (taquipneia) também é um dos sintomas típicos do colapso pelo calor e pode causar desequilíbrios no organismo, como alcalose respiratória (quando o sangue fica excessivamente alcalino devido à perda de dióxido de carbono) e acidose metabólica (quando o corpo acumula ácidos ou perde bicarbonato). Além disso, temperaturas elevadas combinadas com baixa umidade, comuns em períodos de seca, favorecem a perda imperceptível de líquidos pelo trato respiratório e desidratação silenciosa, manifestada por sintomas como tontura, fraqueza (astenia), falta de energia (adinamia) e dificuldade para respirar (dispneia).

Outro risco importante é o ressecamento das mucosas do trato respiratório superior, que pode causar lesões e aumentar a vulnerabilidade a infecções e irritações.

A exposição a poluentes do ar e ao mofo, que prolifera após inundações ou em ambientes muito úmidos, também pode causar irritação e inflamação das vias aéreas superiores, resultando em dificuldade para respirar (dispneia). As mudanças climáticas estão intensificando a liberação de grandes quantidades de pólen na atmosfera — especialmente de plantas como ambrósia, gramíneas e diversas espécies de árvores —, o que agrava os episódios de dispneia em pessoas com asma ou outras doenças respiratórias.

Asma e hiper-reatividade brônquica

As ondas de calor frequentemente são acompanhadas por tempestades, que podem desencadear surtos de ataques de asma, fenômeno conhecido como “tempestade de asma” ou “asma da tempestade”. Durante esses fenômenos, o pólen liberado pelas plantas absorve água, fragmenta-se em partículas menores e, com a ajuda dos ventos fortes, se espalha por grandes distâncias, facilitando sua inalação. Esse aumento súbito na concentração de alérgenos no ar pode provocar crises de asma em pessoas sensíveis, sobrecarregando os serviços de saúde e elevando o risco de complicações respiratórias graves.

A poluição do ar, especialmente pela presença de ozônio e material particulado fino (como poeira e fuligem), tende a aumentar com as temperaturas elevadas e pode agravar ou até desencadear sintomas de hiper-reatividade brônquica e crises de asma. Esses poluentes provocam irritação e inflamação nos pulmões, além de afetarem a musculatura lisa das vias aéreas, favorecendo o seu estreitamento e dificultando a respiração.

Da mesma forma, as intrusões de poeira, comuns em regiões muito secas, aumentam o risco de agravamento da asma e de outros problemas respiratórios, especialmente em pessoas que já são suscetíveis a essas condições.

O mofo que se forma após inundações ou excesso de umidade pode desencadear sintomas típicos de asma, mesmo em pessoas previamente saudáveis. Além disso, mesmo sem a ocorrência de enchentes, o aumento significativo da umidade em determinadas regiões favorece a proliferação de fungos, o que também pode provocar ou agravar crises de asma em indivíduos suscetíveis.

A inalação de ar frio e seco, especialmente durante a prática de esforço físico, pode ativar diversos mecanismos que desencadeiam ataques de asma, como a contração da musculatura lisa das vias aéreas (broncoespasmo), o aumento do fluxo sanguíneo na região, além da liberação de histamina e de outros mediadores que provocam vasoconstrição pulmonar, dificultando ainda mais a respiração.

Infecções respiratórias

A presença elevada de ozônio no ar reduz as defesas naturais do trato respiratório, tornando-o mais vulnerável a infecções. Além disso, durante a estação seca ou em períodos prolongados de seca, a baixa umidade favorece o aumento de micropartículas, pólen, bactérias e fungos no ar, ressecando as mucosas respiratórias e elevando ainda mais o risco de infecções.

Já o mofo que prolifera após inundações ou em ambientes muito úmidos pode causar infecções fúngicas nas vias aéreas, além de favorecer outros tipos de infecções respiratórias.

A exposição ao frio compromete os mecanismos de defesa das vias aéreas superiores e enfraquece o sistema imunológico, aumentando a suscetibilidade a infecções respiratórias e facilitando a propagação de doenças como a gripe. Além disso, a perda imperceptível de fluidos causada pelo frio resseca as mucosas, favorecendo ainda mais o risco de infecção.

Câncer de pulmão

A exposição contínua à poluição do ar faz com que partículas finas se acumulem progressivamente no trato respiratório. Esse acúmulo pode provocar processos inflamatórios crônicos e, ao longo do tempo, aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de pulmão.

Sinais e sintomas respiratórios: colapso e exaustão por calor

O colapso pelo calor geralmente afeta crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas que são expostas a ambientes extremamente quentes. Nesses casos, a transpiração diminui e surgem sintomas respiratórios como respiração rápida (taquipneia), aumento do volume de ar ventilado e alterações como alcalose respiratória. Em situações mais graves, pode haver complicações sérias, como edema pulmonar, infarto pulmonar ou até a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA).

O diagnóstico do colapso pelo calor costuma ser confirmado quando a temperatura corporal atinge 40°C ou mais e há sinais de comprometimento neurológico, como confusão mental ou redução do nível de consciência. Esses sinais estão relacionados a uma reação inflamatória intensa no organismo, conhecida como síndrome da resposta inflamatória sistêmica (SIRS), e podem vir acompanhados de alterações cardiovasculares e problemas nos rins.

Quando o colapso pelo calor ocorre em pessoas que realizam atividades físicas intensas em ambientes quentes, ele é chamado de exaustão por calor. Nesses casos, há sudorese intensa e sintomas respiratórios semelhantes, como respiração acelerada e alcalose respiratória, que podem evoluir para acidose metabólica devido a lesão dos tecidos. Assim como no colapso pelo calor, a exaustão por esforço pode, em casos graves, levar a edema pulmonar, infarto pulmonar ou SDRA.

Fonte: Mudanças climáticas para profissionais de saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador

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